twenty eight
vinte e oito. E eis que, sem aviso, eu começo a perguntar-me como é que o tempo voou assim, num ápice. Ainda ontem cheguei a Zurique, feita uma miúda tresloucada e cheia de dúvidas e esperanças e entusiasmo. Inexperiente e de sangue na guelra. Sempre de resposta na ponta da língua, sem saber distinguir quando vale e não vale a pena. Inocente, sem saber nada desta vida. Para trás deixei muitos amigos que julgava para a vida e uma família que, achava eu do topo dos meus vintes e nada, me sufocava.
Hoje, volvidos alguns anos, e a caminhar a passos largos rumo aos trinta, continuo cheia de dúvidas e sem saber nada de nada. Mas aprendi que os amigos para vida, os dedos de uma mão chegam e sobram para os contar. Aprendi que os meus pais me fazem mais falta do que alguma vez pude imaginar e, mais do que isso, são uma parte de mim que implanto a cada chegada, e que tenho de arrancar a sangue frio a cada despedida. E que a ferida nunca sara realmente. Aprendi que o amor imensurável, que faz doer o coração, faltar o ar e perder a força nas pernas de tão forte, existe mesmo e nunca se lhe conhece realmente os limites. Aprendi sobretudo a ser mais serena, mais contida, mais paciente, menos ansiosa e mais feliz.
Os 28 foram passados no Sábado entre abraços amigos, poucos, quase os suficientes não faltasse a parte portuguesa de mim, e boas conversas.
Com tudo o que a vida me trouxe até aqui, só posso estar grata. O caminho foi duro e cheio de contratempos, mas cheio de lições que levo para sempre na bagagem.