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peripécias de zurique

peripécias de zurique

Pois que tenho vindo a falar de mudanças

De abandonar um emprego, de encontrar outro ainda melhor... e tudo isso. Mas ainda não tinha falado concretamente do que se andava a passar.

 

A verdade é que, depois de tudo o que falei nos posts anteriores, a minha vida andava mesmo a precisar de uma reviravolta. E essa reviravolta começou a dar um ar da sua graça em finais de Julho quando recebi uma chamada telefónica que me fez chorar de emoção. O meu currículo tinha despertado curiosidade algures nos escritórios da empresa onde sonhava trabalhar desde o momento em que cheguei a Zurique. Importa aqui dizer que desde o primeiro mês que passei nesta cidade comecei a tentar entrar na organização e de tempos a tempos enviei candidaturas espontâneas e tentei a minha sorte em posições abertas, mas nunca tinha sido sequer chamada para um entrevista. O meu pai sempre me disse que era lá que me via a trabalhar, e de cada vez que alguém me perguntava pelo meu emprego de sonho este nome vinha à tona.

 

E eis que esse dia chegou. Depois de algumas conversas telefónicas, convidaram-me para uma entrevista, depois outra e ainda outra. Confesso que nunca, ao longo de todo o processo, me permiti a criação de expectativas. Há muito que queria trabalhar nesta empresa e a posição era realmente interessante. Mas eu sou a personificação da ansiedade e tenho uma grande tendência para me recriminar quando falho, por isso nunca quis verdadeiramente acreditar que iria conseguir o trabalho. Fui passando cada fase um tanto ou quanto na desportiva, não falei a quase ninguém sobre o assunto, fui mais descontraída do que é comum para as entrevistas e nunca acreditei que tivesse realmente uma hipótese. Deep down, sempre me disse "pfff, já é uma sorte teres tido a oportunidade de privar com quem lá trabalha e de conhecer o edifício, não peças muito mais."

 

Mas contra todas as minhas perspectivas (e as do meu pai, que a maçã não cai longe da árvore) e exactamente como previsto pelo MQT, a coisa deu-se.

 

Acho que por muitos anos que viva, nunca vou esquecer aquele dia. Não me lembro dos detalhes, do que vestia, da hora a que o telefone tocou, se fazia sol ou chovia a cântaros. Fiquei tão atordoada que tudo o resto me passou ao lado. Assim que o telefone tocou e a notícia chegou, desfiz-me em agradecimentos e meias frases de alegria extrema e mal-disfarçada, e dei sinal ao MQT para me acompanhar até à rua para lhe poder dar a notícia sem reservas. Depois do entusiasmo inicial, seguiu-se o pânico. Como nunca realmente concebi a ideia de conseguir aquele emprego, nunca antevi a saída do emprego actual. Como já aqui falei, custou-me horrores dar a notícia à minha chefe, e ainda que tivesse planeado esperar um ou dois dias para lhe falar no assunto, entrei numa espiral de ansiedade que culminou comigo a contar-lhe tudo nessa mesma tarde.

 

A notícia chegou a 21 de Julho, para iniciar o contrato a 1 de Outubro e a partir daí parece que os dias se arrastaram mais lentos do que nunca. Se já não estava satisfeita com o trabalho que estava a fazer, esta nova perspectiva veio tornar os meus dias ainda mais difíceis. Tinha ainda muito para fazer, uma nova pessoa para treinar, muita coisa para encerrar e muito pouca vontade de continuar. Mas o tempo eventualmente passou, tirei alguns dias de férias pelo meio e num abrir-e-fechar de olhos já era Outubro.

 

No primeiro dia do mês do Outono atravessei os portões desta casa que agora também é minha, the Home of FIFA. E esta aventura alucinante começou para mim. Não sei quanto tempo vai durar, pode ser que até nem gostem do meu trabalho ou talvez um dia eu perceba que não sou feliz aqui. E se olharmos para a polémica que tem rodeado este organismo nos últimos tempos, até há quem não lhe dê muitos anos de vida. Mas por agora, a realidade de trabalhar numa organização tão universal e completa como esta e numa indústria que me faz vibrar tanto como é o caso do futebol, são motivos suficientes para sorrir, muito.

 

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Em Julho, o vento da mudança voltou a soprar

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Fez em Setembro 5 anos que deixei o meu Portugal e cheguei à pequena vila de Chevry como aupair. A situação que vivia depois de acabar a licenciatura levou-me a procurar uma solução rápida que me tirasse de Portugal. Os meus amigos não entenderam, a minha família ainda menos. Eu deixei um emprego aparentemente estável e um um salário razoável para ir para outro país ser baby-sitter. Era definitivamente um emprego que não me fazia feliz. Mais do que isso, era um emprego que me atormentava e não me deixava dormir. Era um emprego que me deprimia e onde não havia caminho a seguir. Todos os dias eram iguais e isso nunca iria mudar. Eu nunca iria aprender nada ou sentir-me útil, eu nunca iria pôr em prática aquilo que estudei. E foi por isso que decidi arriscar. Sei muito bem que muitos pensaram (e poderão ainda pensar ao ler este post) - que ingrata de merda. Tanta gente sem emprego ou a ganhar um salário miserável e eu deixei tudo por uma aventura. Talvez, mas não teria sido muito pior se eu me tivesse mantido num emprego que me fazia infeliz quando tanta gente lhe poderia dar mais valor que eu?

 

Teorias de ingratidão à parte, eu decidi tentar a minha sorte fora de Portugal, mesmo que para isso tivesse significado começar humildemente. Depois de algum tempo como aupair encontrei um bom emprego e durante estes 5 anos fui muito feliz muitas vezes, comi o pão que o diabo amassou outras tantas, aprendi mais do que alguma vez imaginei  e cresci profissional e pessoalmente numa direcção que sempre almejei.

 

Em Setembro deste ano abandonei o meu anterior emprego e não fiz de ânimo leve. Tinha uma grande dívida de gratidão com a minha então chefe e sabia que a iria desiludir. Foi o primeiro emprego que amei realmente, foi o primeiro trabalho por que me apaixonei. Adorei com todos as minhas forças e durante muito tempo aquilo que fazia. Fui uma profissional feliz e realizada durante a maior parte dos anos em que trabalhei com o Bureau Veritas. Mas houve um momento, que não consigo precisar exactamente quando ocorreu, em que esse amor começou a diminuir, em que a motivação começou a descer e em que eu senti que já não tinha muito mais a aprender e que também já não tinha muito mais como contribuir para aquela equipa. A minha chefe e mentora de sempre começou a fazer escolhas com as quais eu já não me identificava, a promoção que me ia sendo prometida nunca mais chegava, e eu, que sempre fui um tanto ou quanto ambiciosa, comecei a ansiar por uma oportunidade mais desafiante, uma lufada de ar fresco.

 

Já numa altura aqui tinha falado da história do vento de mudança que tanto me caracteriza. Desta vez ele foi dando uma ar da sua graça de quando em vez mas só soprou verdadeiramente em Julho deste ano, depois de vários meses de introspecção profissional.

 

Não me arrependo de absolutamente nada no meu caminho até aqui. Muito menos dos anos que passei com esta empresa. Com eles pude viajar e conhecer mais do mundo, aprendi algumas línguas, aperfeiçoei outras. Conheci tanta, tanta gente! Descobri tantas culturas e tornei-me tão mais tolerante. Aprendi tanto, sobre tudo e sobre nada. Fiz alguns amigos, que espero guardar para a vida. E claro, mais importante do que tudo o resto, descobri um outro tipo de amor também. Descobri o amor. Desmesurado, incontrolável, impossível, avassalador. Daqueles sobre os quais lemos nos livros e que vemos em filmes de Domingo à tarde. Daqueles que só se acredita que existe mesmo quando se o vive. E eu que não acreditava...

 

Posto isto, não poderia jamais deixar de me sentir imensamente grata pela oportunidade que me foi dada naquele cinzento dia de Dezembro carregado de neve. Foram maravilhosos os tempos que vivi nesta empresa, apesar dos dias menos bons. E sei que nunca teria chegado onde estou hoje se por lá não tivesse passado. Por isso, obrigada. Sei que poucos ficaram felizes com a minha partida, a maioria não conseguiu sequer perdoar-me por tê-lo feito. Mas a proposta que recebi era, sem dúvida, a estrada certa para eu continuar. E eu continuei.

regresso

Depois de meses e meses de ausência, depois de um ano de 2015 nulo em termos de posts, aqui estou eu.

2015 foi um ano de reencontro, de descoberta, de solidão e auto-análise e por fim de recuperação e de superação.

Fiz as pazes com o amor, abracei o trabalho dos meus sonhos e voltei a ser feliz.

Mas vamos por partes.

Depois do dramático ano de 2014, da frustração no emprego, da separação em Setembro e da depressão que se lhe seguiu, quando regressei a Portugal na altura do Natal recebi finalmente um reality-check e apercebi-me do valor da vida. Percebi que que importa é ser feliz. Deixei então de fazer guerra ao amor e decidi finalmente deixá-lo entrar.

Em Janeiro de 2015 apaixonei-me por aquele que será, certamente, o amor da minha vida.

Em Julho encontrei aquele que será, certamente, o emprego da minha vida.

Juntei-me a uma organização que vive intensos dias de polémica. De qualquer forma, o trabalho não deixa de ser mais espectacular por isso. É um momento difícil para todos, mas ainda assim, é um emprego de sonho. Mas de tudo isto, falarei num próximo post, que prometo, irá chegar brevemente!

Like the legend of the Phoenix, all ends with beginnings

2014 foi um ano duro, muito duro.

 

Começou cheio de esperanças e com algum positivismo. Apesar da amargura que me perseguia durante os últimos tempos, eu acreditei que tinha tudo para ser um ano bom: Uma nova fase no trabalho, novas responsabilidades, novos colegas. Um novo estilo de vida abraçado. Um casamento para planear. Um casamento para celebrar. Pessoas para rever. Um MBA para começar. Uma lua de mel para planear. Realmente, tinha tudo para ser um bom ano.

 

Mas não foi.

 

Foi um ano mau e eu não poderia estar mais feliz por ele chegar ao fim.

 

De uma hora para a outra tudo mudou, e, como se costuma dizer, caiu a ficha. A azáfama das mil e uma coisas para fazer acalmou e a amargura regressou. E foi depois de vários meses negros que percebi que a vida é somente e apenas válida se formos felizes. E que se depois de tentarmos tudo o que está ao nosso alcance e percebermos que não depende apenas de nós e da nossa vontade que as coisas resultem, há que baixar os braços e aceitar o rumo que a vida escolheu tomar por nós.

 

Aprendi a aceitar que as coisas nem sempre correm como esperamos, que não mandamos no nosso coração e que bens materiais apenas nos distraem da infelicidade mas não nos fazem verdadeiramente felizes.

 

Tive de aprender a aceitar que por muito que goste de quem quer que seja, por muito que me preocupe com as repercussões que as minhas escolhas possam ter na vida das pessoas que me rodeiam, não me posso sentar e observar a minha vida passar, ao longe.

 

Tive de aprender que por muito que o mundo peça explicações, há coisas que temos que resolver com nós próprios primeiro e que, muitas vezes, só a nós dizem respeito.

 

Acredito que passamos muito pouco tempo nesta vida para não a viver da melhor forma que conseguirmos. Acredito que é um desperdício viver por viver, e não viver para ser feliz.

 

E foi por isso que a segunda parte do ano se tornou na razão para que eu classifique este ano como o mais duro de sempre.

 

Um casamento que terminei. Amigos que perdi, e foram tantos que me dói só de pensar. Pessoas que magoei, principalmente com a minha ausência, porque não tive outra escolha. Uma vida para reconstruir, do zero. Sozinha, completamente sozinha, vi-me obrigada a renascer das cinzas e a recomeçar do nada. E nunca pensei que fosse tão difícil. Aos poucos e poucos fui reencontrando conforto junto dos meus, que inicialmente afastei porque estar sozinha era, de facto, o que precisava. Aos poucos e poucos fui arrumando tudo no lugar, fui construindo o meu lugar.

 

Agora que a tempestade acalmou e tudo se começa a alinhavar, é hora de olhar para o ano que passou não com os olhos de quem quer esquecer, olhando mas tentando não ver, mas sim com predisposição para aprender com tudo o que passou e não voltar, nunca, a cometer o erro de tentar ser “só mais ou menos feliz”.

 

É também tempo de olhar com esperança para o novo ano que aí vem. Um ano que não tem particularmente nada de especial para ser um bom ano. Vai ser sim, pelo menos, um novo começo, um ano meu.

 

2014 foi o ano em que resolvi enterrar a minha tão organizada, admirável e confortável vida e abraçar em vez uma vida solitária, independente e menos confortável.

 

2015 vai ser o ano em que começarei a aproveitar os resultados desta escolha que, apesar da dor, foi a decisão acertada.

 

escrever este post foi difícil. ter de o explicar será muito mais. por isso, não me façam perguntas para as quais não há resposta.

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