Este blog regressou do além ao mundo dos vivos! Ou pelo menos está a tentar, a ressuscitar das profundezas, ali uma coisa a arrastar-se para fora do túmulo mas ainda em modo zombie.
O último post foi há um ano e meio, mais coisa, menos coisa. E que ano e meio foi este! Talvez isso possa servir de desculpa para ter escrito pouco, mas visto que não escrevi nada mesmo, não há desculpa que me salve.
O bom de tudo isto é que tenho muita peripécia para contar. O ano e meio que passou foi violento e, se querem saber a verdade, quase não dei pelo tempo passar. Foi essencialmente dominado pelo trabalho, muito trabalho, tanto trabalho que quase me custou tudo o resto. Saúde, amor, vida pessoal. Felizmente, fui a tempo de me aperceber que era demais e meti marcha-atrás.
Trabalhei muito é certo, e também por isso viajei muito, o que tornou a coisa menos sofrível. Assim por alto: Bahrein, Rússia, Índia, Reino Unido e França (muito), Estados Unidos, República Dominicana, Emirados Árabes, Senegal, Mauritânia, São Tomé, Nigéria, Tanzânia, China, Bélgica e Alemanha.
Vivi um mês e meio em Moscovo.
E confirmei aquilo de que há muito suspeitava: viajar é mesmo aquilo que mais gosto de fazer nesta vidinha e é para isso que hei-de trabalhar sempre.
Vivi um Mundial a partir de dentro, conheci-lhe as entranhas. Descobri os meus próprios limites físicos e psicológicos e percebi como é tão fácil chegar à beira do abismo, mas tão difícil encontrar forças para dar meia volta em vez de saltar. Vivi todas as emoções ao extremo, alegria e tristeza, euforia e desolação, orgulho e vergonha, amor e ódio, frustração e determinação, e sobretudo força. Força bruta e teimosia cega que me fez continuar a caminhar, às vezes arrastei-me, mas não parei nunca. Mudei (mudámos) de casa, tirei um MBA, fui promovida (aleluia irmãos!), arranjei (arranjámos) uma cadela tresloucada que é a alegria dos nossos dias. Fiz amigos novos que espero que fiquem para sempre.
No próximo mês vamos ao Peru - o realizar de um sonho para mim, um regresso a casa para ele.
Peripécias para breve (não, não deixarei passar outro ano e meio).
Muito se escreve e muito se diz sobre a amizade. Frases em fundos inspiradores que se encontram por essa internet fora, provérbios e rimas, filmes, livros, teorias sobre a amizade entram-nos pelos olhos a dentro diariamente sob a forma de finais felizes, sempre. Ninguém nos mostra o reverso da moeda, aquilo que fica quando uma amizade se acaba. A verdade é que a decisão de mudar de país trouxe para a minha vida o peso da descoberta das verdadeiras amizades, aquelas que não cobram, que entendem, que não se colocam sempre e absolutamente em primeiro lugar. E a tristeza de ver tantas outras partir. Claro que podemos sempre argumentar que se acabou, se não resistiu ao tempo e à distância, foi porque não era verdadeiro, ou forte o suficiente. Mas ainda assim dói. Alguns dos que deixei em Portugal, e com quem contava para a vida, saíram-me dela por não perceberem que, enquanto as suas vidas continuavam da mesma exacta forma, dia após dia, eu comecei a dividir a minha em duas vidas: a que tenho aqui e a que tenho lá, que fica em pausa durante o ano e se retoma nas épocas em que regresso, nos pequenos fins-de-semana de tempos a tempos, nas festas tradicionais, nas férias. Partiram por não perceberem que tudo o que vivem num ano, eu tenho de concentrar no par de semanas em que vou “a casa”. Todas as pessoas que tento ver, todos os locais aonde tenho de ir e sobretudo o tempo que devo aos meus pais se concentram nesses escassos períodos de tempo. E eu tentava de tudo, desdobrava-me em quatro e não parava um segundo para tentar agradar a todos, regressando mais cansada do que à partida. Tentava, sim, porque as pessoas por quem o fazia foram, entretanto, ficando para trás, partindo por vontade própria em busca de amigos mais disponíveis. E por isto não as culpo. Apenas pela cobrança. Porque por entre todas as teorias sobre a amizade espalhadas por aí, a mais verdadeira é a de que a amizade não se cobra. E não mesmo. Sair de Portugal foi uma decisão que tomei consciente das consequências que traria. Ainda que a escolha tenha sido minha face às opções que (não) tinha em Portugal, só quem o vive sabe que emigrar não é só fazer dinheiro e viver bem. É também um fardo muito, muito pesado e é sinónimo de solidão, de um quase abandono. É ser-se gradualmente confrontado com o facto de não ser suficientemente presente para os amigos que se deixa no país de partida e de não ser suficientemente “de cá” para os novos que se vão encontrando no país de chegada. É não ter quem nos fique com um filho doente num momento de necessidade. É não ter alguém a quem pedir ajuda num momento de aflição. É não ter a mãe que nos faz o almoço nos dias corridos e nos manda batatas e cebolas e sobras para o jantar. É não ter o pai que nos ajuda com aquele problema do carro. São as lágrimas que caem, quando nos apercebemos que não temos um contacto de emergência para dar no hospital. A minha prioridade nestas visitas a Portugal sempre foi e sempre será passar tempo com os meus pais. A culpa por estar a viver os melhores anos da vida deles à distância é pesada. O pensamento de que o tempo com eles irá um dia esgotar-se vive de mãos dadas com o tempo que passo aqui. E por isso, o meu tempo é primeiramente para eles. Que amigos de verdade não percebam isso, é-me impossível de aceitar.
vinte e oito. E eis que, sem aviso, eu começo a perguntar-me como é que o tempo voou assim, num ápice. Ainda ontem cheguei a Zurique, feita uma miúda tresloucada e cheia de dúvidas e esperanças e entusiasmo. Inexperiente e de sangue na guelra. Sempre de resposta na ponta da língua, sem saber distinguir quando vale e não vale a pena. Inocente, sem saber nada desta vida. Para trás deixei muitos amigos que julgava para a vida e uma família que, achava eu do topo dos meus vintes e nada, me sufocava.
Hoje, volvidos alguns anos, e a caminhar a passos largos rumo aos trinta, continuo cheia de dúvidas e sem saber nada de nada. Mas aprendi que os amigos para vida, os dedos de uma mão chegam e sobram para os contar. Aprendi que os meus pais me fazem mais falta do que alguma vez pude imaginar e, mais do que isso, são uma parte de mim que implanto a cada chegada, e que tenho de arrancar a sangue frio a cada despedida. E que a ferida nunca sara realmente. Aprendi que o amor imensurável, que faz doer o coração, faltar o ar e perder a força nas pernas de tão forte, existe mesmo e nunca se lhe conhece realmente os limites. Aprendi sobretudo a ser mais serena, mais contida, mais paciente, menos ansiosa e mais feliz.
Os 28 foram passados no Sábado entre abraços amigos, poucos, quase os suficientes não faltasse a parte portuguesa de mim, e boas conversas.
Com tudo o que a vida me trouxe até aqui, só posso estar grata. O caminho foi duro e cheio de contratempos, mas cheio de lições que levo para sempre na bagagem.
Cinco anos depois de ter chegado a Zurique, e numa situação de absoluta necessidade, fui pela primeira vez a uma costureira, que afinal era um costureiro mas isso não interessa nada. Tenho em Portugal uma costureira querida e de confiança que me trata sempre de tudo durante as minhas férias, à velocidade da luz. Ainda assim, como era um caso de quase vida ou morte, porque preciso do meu uniforme de trabalho já amanhã e no fim-de-semana apercebi-me que as bainhas estavam uma miséria depois de usar as calças duas vezes (boa, alfaiate!), teve mesmo de ser.
Então lá fui e eis que, por ajustar duas bainhas e apertar dois pares de calças (aproveitei a viagem porque elas alargaram por demais, não vou dizer que emagreci!) paguei a módica quantia de 120 francos suíços. Mais de 100 euros. Bonito serviço.
Uma das vantagens de trabalhar ao lado do jardim zoológico é poder entrar gratuitamente durante a hora do almoço para comer num dos vários restaurantes do espaço. E eu, supra-sumo da racionalidade, tive a bela ideia de ir lá almoçar hoje. Sexta-feira. Dia de excelência para as mães que não trabalham a tempo inteiro levarem os seus petizes ao zoo. E eu poderia pôr-me aqui a falar do piqueno que vi a enfiar as mãos na taça das sementes do buffet de saladas, repetidamente, como quem se ensaboa. Ou da senhora que estava arejadamente a amamentar à mesa do restaurante. Ou do facto dos pais suíços não parecerem querer saber se os seus trambolhos pintam o diabo a sete (juro, em seis anos que levo disto, nunca vi um suíço repreender um filho seu, os dos outros sim). Mas, isto não é um post sobre educação infantil. E eu até gosto de miúdos. E não sei o que me espera quando for mãe.
O que eu queria mesmo vir aqui dizer é que fiquei admirada com a quantidade de adultos vs. a quantidade de crianças. Eu explico. Vi vários casos onde a trupe era formada por uma mãe (quase nunca um pai) e um mínimo de quatro crianças de idades muito próximas. E eu só quero que me expliquem como é que uma mãe consegue ter bravura que chegue para se atirar ao Zoo sozinha (salvo seja) com quatro infantes de três ou quatro anos. Pelo que pude ver, é o caos no momento das refeições e dos chichis, e até caminhar normalmente pelo jardim é um desafio. A certa altura era ver putos por tudo quanto era canto, espalhados pelo chão da casa dos macacos (fora das jaulas, calma) a dormir a sesta, uma pessoa parecia que ia a caminhar num campo de minas. E às mães, também essas espalhadas pelos cantos, por certo não lhes faltaria vontade de deixar as suas crias ali, entregues à outra mãe, a natureza.
As mulheres dos jogadores são quase todas lindíssimas e, nesta gala em particular, estiveram muito bem. De resto, há a destacar também as senhoras do futebol, que surpreenderam pela positiva.
Ora então, vejamos...
Carli Lloyd, a mostrar que as jogadoras de futebol não têm de ser todas masculinas e sem graça. Estava deslumbrante.
Embora a foto desfavoreça muito o modelito que tinha um trabalhado encantador, a Clarisse Alves estava imponente e confiante. Além disso, que família amorosa!
Pilar Rubio e Sergio Ramos. Linda e escultural, ficaria bem em qualquer trapito... menos neste. Não lhe assentava nada bem, o corte é estranho e deixa pouco à imaginação.
Kate Abdo, a mais bonita da noite. Podem até dizer que não estou a ser imparcial, não me interessa nada. Estava linda em Givenchy, irrepreensível e de fazer girar cabeças.
Têm sempre o último modelo do iphone, nunca andam em carros velhos e não arrendam em bairros dodgy... mas quando vão cortar o cabelo, não secam nem penteiam para poupar na conta.
E começou a contagem decrescente para a mais fantástica gala futebolística do mundo.
Se nos outros anos já ansiava por esta data com algum fervor e fazia questão de ir até à Red Carpet ver os meus jogadores favoritos de perto, este ano vai ser ainda mais fantástico por estar a trabalhar nos bastidores. A possibilidade de tomar parte activa de um evento desta dimensão é uma experiência extasiante e que, certamente, vai ficar na minha memória.
Depois conto como foi, mas até lá... Ronaldo, Messi ou Neymar?
A neve deu um ar de sua graça no Sábado ao fim do dia, mas nada que jeito tivesse. Só uns farrapos mínimos, para isso mais valia ter estado quieta. O frio, esse veio em força, mas a neve branquinha e bonita... nem vê-la!
Enfim, cá nos vamos aguentando e arreganhando o dente. Principalmente eu, que tenho que apanhar o eléctrico todas as manhãs e todas as noites e durante o caminho até à paragem quase entro em hipotermia!
O que me vai dando ânimo é saber que o Natal está aí à porta e com ele, Portugal!
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