FIFA BALLON D'OR 2015 #2 , ou eu conto-vos como foi
E já passou. Passou a voar e foi extenuante, avassalador e muito, muitíssimo cansativo.
A minha função principal era ocupar-me dos dois apresentadores, James Nesbitt, actor (Hobbit, The Missing) e Kate Abdo, jornalista da Sky News. Recebi-os no aeroporto na sexta-feira de manhã e segui-os durante todo o fim-de-semana, do acordar ao deitar. Como o meu trabalho era essencialmente no backstage, acabei por passar os dias a auxiliar a equipa de produção e a trabalhar no programa de tv propriamente dito. Tanto o James quanto a Kate foram fantásticos, muito fáceis de trabalhar, acessíveis, simples e atenciosos. Ele é de um talento e humor admiráveis, ela uma força da natureza, com um nível de profissionalismo e um ritmo de trabalho contagiantes. Foi um prazer trabalhar com os dois.
Durante o fim-de-semana, ocupei-me ainda dos 2Cellos, o acto musical, mas no dia do programa, tive de passar a bola a outro, porque já não sabia para onde me virar como tanto trabalho.
Trabalhámos tanto, dormimos tão pouco, e o tempo passou a correr. A segunda-feira chegou num ápice. Acordei mais cedo que nos dias anteriores, e às nove da manhã já estava no Park Hyatt Hotel à espera da minha trupe. A partir daí foi sempre a correr, a ultimar preparativos e a acertar detalhes até às cinco, hora em que começou a passadeira vermelha. Antes do transmissão começar, fiquei encarregue de encaminhar os jogadores e convidados VIP para o auditório. Depois, fique essencialmente no backstage, a ajudar nas operações.
Foi a primeira vez que privei com os melhores do mundo, e se é verdade que foi um privilégio, é também um facto que o trabalho e a pressão me absorveram de tal forma, que foi fácil esquecer a importância das pessoas com quem ia falando. Claro que a maioria era bastante simples e acessível, o que ajudou bastante.
O momento alto da noite aconteceu quando entregaram o Puskas Award, que premeia o golo mais bonito da época. Este prémio já passou pelas mãos de estrelas como Cristiano Ronaldo, Neymar ou Ibrahimovic, mas este ano foi especial. O vencedor foi Wendell Lira, uma jogador de quem até então nunca ninguém tinha ouvido falar. Vindo do Vila Nova de Goiânia, um clube da segunda divisão brasileira, Wendell é uma pessoa simples, com uma vida normal e que nunca, nem nos seus sonhos mais audazes, se atreveu a imaginar que iria um dia pisar o mesmo palco que os maiores do mundo e muito menos disputar um prémio com Lionel Messi. Como o Wendell fala apenas português e nunca tinha vindo à Europa, eu estive em contacto com ele desde o primeiro minuto em que o nome dele entrou na lista de candidatos ao prémio para o ajudar a organizar a vinda a Zurique. Fiquei rendida à humildade das palavras, à simplicidade das questões, à amabilidade e à educação. Embarquei também eu neste sonho, porque o Wendell me fez acreditar. E foi com profunda alegria e uma certa ponta de orgulho que assisti emocionada ao brilhante discurso com que Wendell nos brindou ao receber o prémio. E não fui a única. Ao meu lado, no backstage, estava Neymar, e foi com espanto que me apercebi que também ele tinha lágrimas nos olhos. Deixo-vos um curto vídeo do backstage, que mostra este momento maravilhoso.
Quando a gala chegou ao fim, a sensação de dever cumprido e de triunfo era quase palpável e estava estampada na cara de toda a gente. Diz quem sabe que foi o melhor Ballon d'Or em anos e eu acredito. Acredito porque vi o programa ganhar forma e conheço o brilhantismo que quem o dirigiu. Para o ano, lá estamos outra vez, que no que depender de mim, não voltarei a perder isto, por nada deste mundo.