Esta coisa de voltar a estudar
Quando, em 2009, terminei a minha licenciatura, estava a trabalhar. Coisa que, aliás, fiz durante o curso inteiro. Como já levava uns anitos de trabalhadora-estudante na mesma empresa, havia muita pressão por parte da chefia para terminar os estudos e começar a trabalhar a tempo inteiro. E foi por isso que na altura, sem grande relutância da minha parte, de tão exausta que já estava, e sem muita insistência da parte dos meus pais, cujas finanças estavam a caminho da bancarrotice às custas da universidade, resolvi não seguir directamente para o mestrado como fez grande parte dos meus colegas.
Por outro lado, o curso que tirei era demasiado abstracto dentro da área (que é como quem diz, sabia lá eu para que é que me ia servir uma licenciatura em Línguas e Relações Empresariais) e eu não tinha a mínima ideia do que estudar a seguir.
E assim fui adiando. Acabei por sair da empresa onde estava, depois foi a mudança para a Suíça, entretanto o longo período de adaptação e uma fase intensa de auto-análise profissional onde fui aprendendo sobre aquilo que mais me dava gosto fazer e onde fui descobrindo os meus verdadeiros talentos e paixões. Entretanto cheguei a uma fase de estagnação no trabalho, já não me sentia desafiada, sentia que já tinha aprendido tudo e mais alguma coisa sobre aquela função e aquela empresa e aquele negócio. Estava verdadeiramente saturada.
E foi então que decidi voltar a estudar. Pesquisei muito, falei com muita gente, ouvi imensas opiniões e acabei por decidir fazer um MBA com a Universidade de Madrid que oferece a possibilidade de estudar à distância. Perfeito, foi o que me ocorreu na altura. Assim não tenho que reduzir a carga horária, posso continuar a trabalhar a tempo inteiro e logo me oriento com o tempo para estudar. Primeiro erro. E dos grandes. Um crédito (ECTS) equivale normalmente a 25-30 horas de trabalho. Para completar o MBA são necessários 60 ECTS, 54 se excluirmos a tese, façam-lhe as contas. Ah, esqueci-me de mencionar que me propus a terminar o curso em 2 anos e que a Universidade faz pausas nos meses de Dezembro, Fevereiro e Março, Julho, Agosto, Setembro e boa parte de Outubro. Sendo que os meses em que efectivamente temos acesso ao material dos cursos e podemos estudar se resumem a parte de Outubro, Novembro, parte de Dezembro, Janeiro, Abril, Maio, Junho e Julho - 7 meses mais coisa menos coisa. Mais uma vez, dizia-vos para fazerem as contas, mas eu já fiz. Ronda uma média de cerca de 7 horas por dia. E quem me dera a mim ter tanto tempo.
Mas não tenho. E estando agora na recta final, a caminhar a passos largos para Julho onde, hopefully, irei terminar o segundo e último ano desta treta... olhem, nem vos digo nem vos conto. E depois ainda vem a tese, para a qual não tenho ainda um coordenador nem nunca ouvi falar do tal, e não faço a mais pequena ideia do tema que irei abordar.
Quantas e quantas vezes me arrependi de ter voltado a estudar? Quantas vezes me apercebi que a vida me estava a passar ao lado enquanto eu passava os dias no trabalho (mais que muito) e as longas noites de cara enfiada nos livros? Quantos fins-de-semana quase dei em maluca sem por um pé na rua nem tirar o pijama? Juro, várias vezes, pensei estar a enlouquecer. Várias vezes achei que não conseguia mais, que ia desistir. Ainda assim, mal ou bem, às vezes com notas boas, outras nem por isso, lá fui passando a tudo, com muito, muito esforço.
Arrependi-me muitas vezes, sim. Não teria voltado a estudar se soubesse o que sei hoje. Ainda assim, sei que me arrependeria muito mais se não o tivesse feito.
Porque depois há toda a panóplia de questões em torno da razão pela qual voltei a estudar ou em que é que isso irá mudar a minha vida. É verdade que sou uma forte defensora da velhinha expressão "o saber não ocupa lugar" e acho sempre que vale a pena estudar mais qualquer coisa, aprender mais qualquer coisa, tornarmo-nos constantemente mais polivalentes e reinventarmo-nos. E depois há também a questão de progressão na carreia, cuja possibilidade aqui na Suíça caminha bastante em paralelo com o grau de estudos.
E eu tive que repetir cada uma destas razões para mim mesma vezes sem conta, assim em tom de mantra, de cada vez me me apeteceu mandar tudo à fava e ir estatelar-me em frente à televisão a enfardar pipocas.