Os suíços são um povo estranho #1
Raramente te convidarão para entrar em casa deles, mas toda a gente pode ver o que lá se passa, porque a maioria não usa cortinas.
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Raramente te convidarão para entrar em casa deles, mas toda a gente pode ver o que lá se passa, porque a maioria não usa cortinas.
Quando comento com alguém que trabalho na FIFA, a reacção mais comum que recebo é um erguer de sobrancelhas e um "é pá, isso anda complicado".
É um facto, e contra isso nada a dizer. Está realmente complicado. A quantidade de pessoas a sair, voluntariamente ou não, é assustadora. Tudo o que a imprensa diz e desdiz acerca do assunto é assustador. A dimensão que cada notícia toma é assustadora. E a posição significativamente próxima a que acompanho tudo é também assustadora.
A minha posição nesta empresa é de coordenadora do escritório do Secretário Geral - o CEO. Neste momento esse CEO, Jérôme Valcke, encontra-se suspenso, como é do conhecimento público. Não sendo o meu chefe directo, seria para ele que iria trabalhar, não fosse essa suspensão ter acontecido algumas semanas antes da minha chegada. Sorte ou azar, cheguei depois deste acontecimento, mas já cá estava e acompanhei de perto a suspensão do Presidente Joseph Blatter.
Quem já trabalhou em grandes organizações e passou por momentos de crise, sabe que este tipo de episódios deixam sempre um clima de incerteza, de medo, de apreensão. Mas facto é, e isso tem-se tornado cada vez mais evidente dia-após-dia, que o trabalho continua a ter de ser feito. O Ballon D'Or continua a ter de acontecer, o próximo Mundial continua a ter de ser organizado, a máquina continua a ter de trabalhar porque existe todo um outro mundo para além do que acontece com o Presidente ou o Secretário Geral. E confesso que desde que aqui cheguei, não houve um único dia em que sentisse que havia falta de trabalho, que se estava em stand by, tudo parado à espera que a crise passasse. Nunca. O que vi aqui foi um grande grupo de pessoas dedicadas, trabalhadoras e perseverantes que não pararam um único minuto para se encostarem ao escândalo em redor. O stress continua, as deadlines para cumprir está lá, os eventos para entregar, o trabalho constante não param de chegar.
Se inicialmente senti algum receio e incerteza, todas as dúvidas foram dissipadas logo na primeira semana. As equipas unidas, profissionais e brilhantes que aqui encontrei são quem faz a organização, e essa, continua a produzir, mesmo sem cabeça*.
*head - referindo-me aos líderes suspensos, heads da organização.
Hoje o dia de trabalho será mais curto.
Às 11:00 partiremos da Home of FIFA rumo às montanhas para um dia de caminhada, workshops e team building.
Para mim, enquanto nova no grupo, este tipo de actividades são essenciais. Ajudam à integração, reduzem as distâncias e dão-me oportunidade de conhecer cada pessoa da minha equipa, mais como indivíduo e menos como profissional.
Quanto ao hiking propriamente dito, vai ser a primeira vez para mim, por isso não sei ainda muito bem ao que vou. Se sobreviver, conto como foi!
De abandonar um emprego, de encontrar outro ainda melhor... e tudo isso. Mas ainda não tinha falado concretamente do que se andava a passar.
A verdade é que, depois de tudo o que falei nos posts anteriores, a minha vida andava mesmo a precisar de uma reviravolta. E essa reviravolta começou a dar um ar da sua graça em finais de Julho quando recebi uma chamada telefónica que me fez chorar de emoção. O meu currículo tinha despertado curiosidade algures nos escritórios da empresa onde sonhava trabalhar desde o momento em que cheguei a Zurique. Importa aqui dizer que desde o primeiro mês que passei nesta cidade comecei a tentar entrar na organização e de tempos a tempos enviei candidaturas espontâneas e tentei a minha sorte em posições abertas, mas nunca tinha sido sequer chamada para um entrevista. O meu pai sempre me disse que era lá que me via a trabalhar, e de cada vez que alguém me perguntava pelo meu emprego de sonho este nome vinha à tona.
E eis que esse dia chegou. Depois de algumas conversas telefónicas, convidaram-me para uma entrevista, depois outra e ainda outra. Confesso que nunca, ao longo de todo o processo, me permiti a criação de expectativas. Há muito que queria trabalhar nesta empresa e a posição era realmente interessante. Mas eu sou a personificação da ansiedade e tenho uma grande tendência para me recriminar quando falho, por isso nunca quis verdadeiramente acreditar que iria conseguir o trabalho. Fui passando cada fase um tanto ou quanto na desportiva, não falei a quase ninguém sobre o assunto, fui mais descontraída do que é comum para as entrevistas e nunca acreditei que tivesse realmente uma hipótese. Deep down, sempre me disse "pfff, já é uma sorte teres tido a oportunidade de privar com quem lá trabalha e de conhecer o edifício, não peças muito mais."
Mas contra todas as minhas perspectivas (e as do meu pai, que a maçã não cai longe da árvore) e exactamente como previsto pelo MQT, a coisa deu-se.
Acho que por muitos anos que viva, nunca vou esquecer aquele dia. Não me lembro dos detalhes, do que vestia, da hora a que o telefone tocou, se fazia sol ou chovia a cântaros. Fiquei tão atordoada que tudo o resto me passou ao lado. Assim que o telefone tocou e a notícia chegou, desfiz-me em agradecimentos e meias frases de alegria extrema e mal-disfarçada, e dei sinal ao MQT para me acompanhar até à rua para lhe poder dar a notícia sem reservas. Depois do entusiasmo inicial, seguiu-se o pânico. Como nunca realmente concebi a ideia de conseguir aquele emprego, nunca antevi a saída do emprego actual. Como já aqui falei, custou-me horrores dar a notícia à minha chefe, e ainda que tivesse planeado esperar um ou dois dias para lhe falar no assunto, entrei numa espiral de ansiedade que culminou comigo a contar-lhe tudo nessa mesma tarde.
A notícia chegou a 21 de Julho, para iniciar o contrato a 1 de Outubro e a partir daí parece que os dias se arrastaram mais lentos do que nunca. Se já não estava satisfeita com o trabalho que estava a fazer, esta nova perspectiva veio tornar os meus dias ainda mais difíceis. Tinha ainda muito para fazer, uma nova pessoa para treinar, muita coisa para encerrar e muito pouca vontade de continuar. Mas o tempo eventualmente passou, tirei alguns dias de férias pelo meio e num abrir-e-fechar de olhos já era Outubro.
No primeiro dia do mês do Outono atravessei os portões desta casa que agora também é minha, the Home of FIFA. E esta aventura alucinante começou para mim. Não sei quanto tempo vai durar, pode ser que até nem gostem do meu trabalho ou talvez um dia eu perceba que não sou feliz aqui. E se olharmos para a polémica que tem rodeado este organismo nos últimos tempos, até há quem não lhe dê muitos anos de vida. Mas por agora, a realidade de trabalhar numa organização tão universal e completa como esta e numa indústria que me faz vibrar tanto como é o caso do futebol, são motivos suficientes para sorrir, muito.
De há uns tempos para cá, o Observador faz parte da minha rotina diária de visitas e passou a ser, a par do querido Sapo, uma das minhas principais fontes de informação.
Para além das notícias, tem sempre reportagens interessantes, artigos de opinião e um grande talento para explicar as problemáticas actuais de que ouvimos falar todos os dias mas que muitas vezes não compreendemos bem.
De salientar hoje esta notícia, que a mim particularmente me interessa, e que passo a transcrever:
"A Suíça quer mais mulheres à frente dos negócios do país. O Governo apresentou um projeto de lei para que os conselhos de administração e os quadros de gestão das grandes empresas, tenham, pelo menos, 30% de mulheres, avança o Financial Times. Caso seja aprovado, terá sido dado mais um passo pela igualdade de género na Europa.
Esta semana, o Governo alemão também indicou que vai avançar com uma medida que estabelece um limite mínimo de 30% de mulheres em cargos de administração, mas a iniciativa do Executivo suíço vai mais além e inclui os cargos de gestão sénior no limite mínimo de 30%.
Uma vez aprovada, a medida terá de ser cumprida em cinco anos, mas não estão previstas sanções para as empresas que não cumprirem com a quota. Contudo, terão de justificar o incumprimento e apresentar medidas para melhorar o rácio da igualdade de género no futuro.
“É uma vergonha que tenhamos de precisar de quotas, mas a verdade é que as medidas voluntárias [das empresas] ainda não deram o retorno que precisamos”, disse Eleanor Tabi Haller-Jorden, presidente do Paradigm Forum, um think-tank suíço, acrescentando que para que a medida resulte também é preciso mudar a cultura das empresas.
A proposta do Governo vai ser discutida no Parlamento e o CVP, partido do centro-direita, já avançou que vai rejeitá-la. No universo empresarial suíço, não existe nenhuma mulher a presidir uma grande empresa e apenas Nayla Havek, da Swatch, representa o universo feminino na presidência não executiva.
Na última década, têm sido várias as iniciativas que visam incluir mais mulheres nas administrações das empresas. Em 2003, a Noruega avançou com uma medida para que 40% dos cargos de administração fossem ocupados por mulheres. França, Holanda e Espanha foram os países que se seguiram.
Segundo dados da empresa de recrutamento de topo Heidrick and Struggles, divulgados pelo Financial Times, as mulheres ocupavam cerca de 17% dos conselhos de administração de empresas europeias em 2013. Em 2011, ocupavam cerca de 12%. A Noruega é o país exemplo, com 39% dos cargos de direção a serem ocupados por mulheres, ao qual se segue a Finlândia e a Suécia, com 27%."
Os eleitores suíços rejeitaram definitivamente a proposta para reduzir a imigração líquida para um máximo de 0,2% da população.
26 cantões do país rejeitaram a proposta, com cerca de 74% das pessoas a votarem “não” no referendo de Domingo.
Os defensores da medida argumentam que esta reduziria a pressão sobre os recursos do país. Os adversários contrapõem que esta traria efeitos nefastos à economia.
Cerca de um quarto dos oito milhões de pessoas na Suíça são estrangeiros.
A medida teria exigido que o governo reduzisse a imigração de cerca de 80.000 para 16.000 pessoas por ano.
Segundo o sistema de democracia directa da Suíça, os cidadãos podem forçar um referendo se reunirem assinaturas suficientes de apoio a uma determinada medida.
O país votou favoravelmente em Fevereiro, para re-introduzir quotas de imigração, resultando na exclusão de um acordo de livre circulação com a União Europeia.
O governo terá agora de implementar o resultado desse referendo, que causou tumulto nas relações com a UE.
Dois outros referendos tiveram também lugar no Domingo: um para forçar o Banco Central a aumentar as reservas de ouro e outro sobre o fim das vantagens fiscais para estrangeiros abastados.
Também estes referendos não conseguiram obter apoio suficiente para que as medidas passem a lei.
'Ecopop'
O nome desta proposta de emigração teve origem no movimento suíço com mais de 40 anos de antiguidade Ecopop, que procura vincular a protecção ambiental com controlo do crescimento demográfico.
Imogen Foulkes, correspondente da BBC em Genebra, diz que ainda que o desemprego seja baixo e os padrões de vida alto, muitos suíços estão preocupados com a superlotação e degradação ambiental.
A população da Suíça cresceu mais de um milhão em 20 anos, e é actualmente 8,2 milhões. Cerca de 23% dos seus habitantes são estrangeiros, a maioria deles de países da UE.
No ano passado, a imigração líquida rondou os 81.000, de acordo com a emissora pública Swiss Info.
Os defensores da medida afirmam que restringir a imigração iria salvaguardar o ambiente da Suíça, reduzindo a necessidade de novas ligações de transportes e habitações.
A proposta também inclui uma medida para limitar a superpopulação no exterior, dedicando 10% de ajuda externa da Suíça para o planeamento familiar nos países em desenvolvimento.
Os opositores, entre eles todos os principais partidos políticos, argumentam que as propostas seriam negativas para a economia, porque os líderes empresariais precisam de ser capazes de recrutar mão de obra qualificada de toda a Europa.
Teme-se também que, se aprovada, a medida poderia colocar o país em violação dos seus compromissos internacionais e danificar a sua imagem.
Muitos grupos ambientais sugerem que, se o povo suíço quer realmente proteger o meio ambiente, este deve ajustar o seu próprio estilo de vida, reporta o correspondente da BBC em Genebra, Imogen Foulkes.
Com as paleeeeetes de leitores que tenho, arrisco-me a que este espaço deixe de ser o paraíso quase desconhecido desta cidade, onde me escondo de quando em vez. Sim, porque assim que descobrirem esta maravilha, tenho a certeza que não faltarão pessoas a voar de Portugal só para isto. Mas enfim, hoje sinto-me altruísta e vou mesmo partilhar convosco um dos meus lugares preferidos em Zurique: o Zürich Thermalbad & Spa.
Além do fantástico spa ao estilo romano, das diversas piscinas, salas de massagens e jacuzzis, o mais fascinante é mesmo uma piscina/jacuzzi no rooftop com vista panorâmica sobre a cidade.
É o programa perfeito para o fim de um dia de trabalho ou uma manhã de Domingo.
Está aberto todos os dias das 9:00 às 22:00 e os preços rondam os 60 CHF para o uso completo do espaço.
E pronto, agora vou a correr fazer o meu cartão de membro vitalício!
Este artigo da Gazeta Lusófona:
A Suíça vai de novo a referendo com a iniciativa da Ecopop, no próximo dia 30 de novembro. Uma iniciativa que propõe limitar a entrada de estrangeiros no país helvético, de uma forma radical. Ou seja, esta iniciativa é muito mais restritiva do que aquela que foi a referendo no passado dia 9 de fevereiro, e que deverá, de algum modo, entrar em vigor no próximo ano, mesmo se as negociações com Bruxelas já tiveram início, já que até à data ainda não foi encontrada uma solução. Existe um mal-estar em alguns sectores da sociedade helvética, e isso é evidente, por muito que se queira escamotear a situação. O certo é que muitos estrangeiros cada vez mais trabalham em situação de precariedade, no sector da construção, dado que as centenas de agências de trabalho temporário, que operam no mercado de trabalho helvético, não podem garantir contratos longos e estáveis a nenhum trabalhador. Muito deles já começaram a recorrer ao fundo de desemprego helvético e as ordens superiores são as de que todos os conselheiros, do instituto de desemprego helvético, sancionem à mínima falta por parte do desempregado. Quantas mais sanções, mais o Fundo de desemprego helvético poupa aos seus cofres. E quem não tiver direito ao fundo de desemprego corre o risco de ver a sua autorização de estadia cancelada por parte das autoridades da migração helvética.
Em conversa com o deputado pela emigração, Carlos Gonçalves, foi-nos confirmada a existência da lei que isenta os reformados emigrantes de pagarem o IRS, por um período de 10 anos, quando regressarem ao nosso país. O formulário em questão é modelo 3, anexo L, para residente não habitual. Sabíamos que o decreto-lei existia, mas também sabemos que a lei tem sido ambígua para muitos portugueses quando regressam ao nosso país e que são confrontados com taxas IRS exorbitantes, até porque a sua reforma provém de anos de trabalho em países de acolhimento, nos quais as taxas ficais são bem inferiores àquelas que infelizmente são praticadas no nosso país.
Original aqui.
No início de Julho teve lugar em Zurique o Caliente 2014.
O Caliente é o maior festival de música latina da Europa, que acontece na Langstrasse, conhecida como o red light district da cidade. Historicamente, o bairro que insere a Langstrasse foi, durante o período da industrialização, a casa dos muitos operários que para cá vieram em busca do El-Dorado Suíço. Esta zona é ainda hoje o local mais abertamente multicultural de Zurique, com uma taxa de 42% de estrangeiros, uma das mais altas da cidade.
Coincidentemente ou não, é também esta a zona de Zurique mais afectada pelo tráfico de droga e a prostituição e onde a taxa de criminalidade é mais elevada.
Culturalmente, é uma zona com muitos e bons bares, discotecas e clubes de strip. A festa é constante e não me custa a admitir que o ambiente é bem mais próximo daquele que encontramos na noite em Portugal. Talvez por isso, quando quero sair para dançar e para me divertir é lá que vou.
Mas voltando ao tema principal, fui pela primeira vez ao Caliente este ano e a.d.o.r.e.i. . A música acima de tudo, mas também os cheiros, as comidas, as pessoas, o ambiente. Fui com um grupo pequeno mas fantástico, de uma energia inesgotável e dancei até não sentir mais os pés. Basicamente, aquilo é um aglomerado de barraquinhas com comidas e bebidas típicas de países latinos, cada uma com a sua música, espalhadas ao longo de várias ruas fechadas ao trânsito. E as pessoas vão andando, comendo e bebendo nos diversos stands e dançando no meio das ruas, nos mais variados registos e estilos.
Resumindo, foi uma experiência muito boa, que recomendo e a repetir definitivamente no próximo ano.
O texto da iniciativa aprovada este domingo na Suíça determina que a Suíça passa a “gerir de forma autónoma a imigração de estrangeiros”, devendo determinar o número de autorizações concedidas anualmente. Estas serão fixadas “em função dos interesses económicos globais da Suíça e no respeito pelo princípio de preferência nacional”, isto é, que um suíço volta a ter vantagem face a um estrangeiro na obtenção de determinado lugar.
As novas quotas vão valer para todas as autorizações, incluindo pedidos de asilo. A avaliação de um pedido de autorização de permanência terá particularmente em conta “o pedido de um empregador, a capacidade de integração [de quem pede] e uma fonte de rendimentos suficientemente autónoma”. O direito de residência, assim como o direito ao reagrupamento familiar e às prestações sociais podem ser limitados, define-se também.
Nenhum tratado internacional contrário a estas novas disposições será aprovado, diz ainda a iniciativa, que dá ao conselho federal três anos para renegociar os tratados contrários ao agora aprovado.