É um facto, tudo muda. Para alguns, para pior. Mas para muitos, para melhor e é por isso que decidem nunca regressar. Eu incluo-me no segundo grupo, está claro. Ora atentem:
1. A adrenalina torna-se parte da tua vida
Desde o momento em que decides viver fora, a tua vida transforma-se num remoinho de emoções - aprender, improvisar, lidar com o desconhecido. Todos os teus sentidos ficam mais apurados, e por algum tempo a palavra "rotina" desaparece do teu vocabulário e dá lugar à aventura e adrenalina. Novos lugares, novos hábitos, novos desafios, novas pessoas. Começar tudo de novo deveria assustar-te, mas pelo contrario, torna-se viciante.
2. Quando voltas...Tudo parece o mesmo.
Quando tens alguns dias de férias e voltas à tua terra, parece que nada mudou. A tua vida tem mudado a uma velocidade tremenda, e quando voltas estás pronto para partilhar todas as tuas aventuras. Mas em casa a vida continua na mesma. Todos continuam com as suas tarefas diárias e de repente percebes que a vida não pára para ti.
3. Ficas sem palavras, mas ao mesmo tempo tens tanto para contar
Quando alguém te pergunta como é a tua nova vida, faltam-te palavras para descrever a tua experiência. No entanto, a meio de uma conversa, algo te lembra uma aventura que tiveste e tens que dobrar a língua para não aborreceres todos à tua volta com as tuas historias e para que não soe que estás a ser pretensioso.
4. Apercebes-te que a coragem não é tudo
Várias pessoas dizem que és muito corajoso e que também gostariam de viver fora, mas que tem medo. E tu pensas nas vezes em que estiveste assustado e sabes que coragem está relacionado apenas com 10% das tuas decisões e que 90% está relacionado com a extrema força de vontade que tens. Queres fazê-lo? Tens verdadeiramente vontade de o fazer? Então vai em frente. Desde o momento em que decidimos dar o salto, não somos nem cobardes nem corajosos, todas as advertências que vão aparecendo, nós vamos lidando com elas.
5. E de repente estás livre.
Sempre foste livre, mas a liberdade parece diferente. Agora que deixaste para trás o conforto que tinhas em casa, tu sentes-te capaz de fazer qualquer coisa!
6. Não falas uma língua em particular.
Por vezes, sem intenção deixas sair uma palavra de uma outra língua. Quando interages diariamente com várias línguas, aprendes e desaprendes ao mesmo tempo. Dás por ti a ler na tua língua materna, para que não fique enferrujada.
7. Aprendes a dizer adeus e a aproveitares a tua própria companhia
Apercebeste que a maior parte das coisas e das pessoas que entram na tua vida são temporárias e instintivamente aprendes a desvalorizar a importância da maior parte das situações. Aprendes o balanço perfeito entre criar laços e deixar partir - uma batalha entre a nostalgia e o pragmatismo.
8. Normal? O que é normal?
Viver fora e viajar faz-te perceber que o que é considerado "normal", significa apenas que é cultural e socialmente aceite. Quando entras numa cultura e sociedade diferentes, a tua noção de normalidade cai por completo. Aprendes que existem outras formas de fazer as coisas, e passado algum tempo, tu também começas a fazê-las. Aprendes também a conhecer-te melhor e a crescer.
9. Aprendes a ser paciente e a pedir ajuda.
Quando se vive fora, uma simples tarefa pode-se tornar num grande desafio. Documentação necessária, encontrar a palavra certa, apanhar o autocarro. Existem sempre momentos de stress, mas tu tens tanta paciência (que nem sabias que tinhas), que aceitas e pedes ajuda sempre que seja necessário.
10. A nostalgia apanha-te quando menos esperas.
Uma comida, uma música, um cheiro. Um pequeno pormenor pode dar-te tremenda saudade de casa. Sentes saudades dessas pequenas coisas e darias tudo para voltar atrás no tempo, mesmo que fosse apenas por um pequeno instante.
11. Tu mudas.
Tenho a certeza que já ouviste falar de viagens que mudam a nossa vida. Viver fora é uma viagem que irá mudar profundamente a tua vida e aquilo que és. Irá abanar com as tuas raízes, certezas e medos. Talvez, no inicio não te apercebas ou sequer acredites. Mas, depois de algum tempo, será claro para ti. Tu tens cicatrizes, tu envolveste-te. Tu mudaste.
12. E não há forma de voltares atrás.
Agora sabes o significado de deixar o conforto e começar tudo de novo. E sabes o quanto tudo isto é maravilhoso. Como poderias escolher não viajar e partir à descoberta?
A versão original, em espanhol, pode ser encontrada no blog Más Edimburgo
No início de Julho teve lugar em Zurique o Caliente 2014.
O Caliente é o maior festival de música latina da Europa, que acontece na Langstrasse, conhecida como o red light district da cidade. Historicamente, o bairro que insere a Langstrasse foi, durante o período da industrialização, a casa dos muitos operários que para cá vieram em busca do El-Dorado Suíço. Esta zona é ainda hoje o local mais abertamente multicultural de Zurique, com uma taxa de 42% de estrangeiros, uma das mais altas da cidade.
Coincidentemente ou não, é também esta a zona de Zurique mais afectada pelo tráfico de droga e a prostituição e onde a taxa de criminalidade é mais elevada.
Culturalmente, é uma zona com muitos e bons bares, discotecas e clubes de strip. A festa é constante e não me custa a admitir que o ambiente é bem mais próximo daquele que encontramos na noite em Portugal. Talvez por isso, quando quero sair para dançar e para me divertir é lá que vou.
Mas voltando ao tema principal, fui pela primeira vez ao Caliente este ano e a.d.o.r.e.i. . A música acima de tudo, mas também os cheiros, as comidas, as pessoas, o ambiente. Fui com um grupo pequeno mas fantástico, de uma energia inesgotável e dancei até não sentir mais os pés. Basicamente, aquilo é um aglomerado de barraquinhas com comidas e bebidas típicas de países latinos, cada uma com a sua música, espalhadas ao longo de várias ruas fechadas ao trânsito. E as pessoas vão andando, comendo e bebendo nos diversos stands e dançando no meio das ruas, nos mais variados registos e estilos.
Resumindo, foi uma experiência muito boa, que recomendo e a repetir definitivamente no próximo ano.
O texto da iniciativa aprovada este domingo na Suíça determina que a Suíça passa a “gerir de forma autónoma a imigração de estrangeiros”, devendo determinar o número de autorizações concedidas anualmente. Estas serão fixadas “em função dos interesses económicos globais da Suíça e no respeito pelo princípio de preferência nacional”, isto é, que um suíço volta a ter vantagem face a um estrangeiro na obtenção de determinado lugar.
As novas quotas vão valer para todas as autorizações, incluindo pedidos de asilo. A avaliação de um pedido de autorização de permanência terá particularmente em conta “o pedido de um empregador, a capacidade de integração [de quem pede] e uma fonte de rendimentos suficientemente autónoma”. O direito de residência, assim como o direito ao reagrupamento familiar e às prestações sociais podem ser limitados, define-se também.
Nenhum tratado internacional contrário a estas novas disposições será aprovado, diz ainda a iniciativa, que dá ao conselho federal três anos para renegociar os tratados contrários ao agora aprovado.
A Suíça vai ter um referendo sobre imigração em Fevereiro de 2014.
A iniciativa, do partido SVP, “contra a imigração em massa”, pretende limitar a entrada de estrangeiros, fixando quotas para a atribuição de autorizações de residência para todos os estrangeiros e é contrária ao acordo de livre circulação de trabalhadores assinado entre a Suíça e a União Europeia em 2008.
O SVP propõe também restrições à atribuição de direito de residência a familiares dos imigrantes e ao acesso a prestações de saúde por estrangeiros.
O Governo e vários membros do parlamento Suíço já vieram manifestar-se contra a iniciativa, alegando que a decisão poderá colocar em risco todos os acordos bilaterais existentes com a UE.
Segundo o ministro da economia suíço, o eventual “sim” irá criar problemas às empresas locais que exportam para a Europa, principal parceiro comercial da Suíça e cujos estados-membros canalizam cerca de 56% das exportações e 75% das importações da confederação helvética, segundo números oficiais.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros local afirma também que a criação de quotas de imigração "restringiria a margem de manobra das empresas estabelecidas no país", dificultando o recrutamento de mão-de-obra estrangeira necessária ao crescimento da economia e à competitividade económica do país.
Os sectores da indústria, construção, saúde, ensino, investigação, restauração e agricultura na Suíça dependem em boa parte de trabalhadores estrangeiros.
O SVP admite que a Suíça precisa de trabalhadores estrangeiros, mas defende, no entanto, que deve caber aos Suíços a decisão sobre “quem pode entrar no país, e por quanto tempo pode ficar”.
Este movimento é só o início de uma série de iniciativas que visam travar a crescente imigração do país.
Em Junho de 2012 o Governo suíço já tinha introduzido, ao abrigo de uma cláusula de salvaguarda do acordo com a UE, quotas para as autorizações de residência temporária para cidadãos europeus do espaço Schengen, onde vigora a livre circulação de pessoas.
Ainda a 9 de Fevereiro, vai a referendo uma proposta para limitar os estrangeiros com base na capacidade ambiental do país para receber mais pessoas.
Segundo uma sondagem do Gabinete Suíço de Estatísticas em 2013, 27% da população é composta por emigrantes e filhos de emigrantes. O SVP afirma que a imigração em massa tem feito aumentar a criminalidade e o custo de vida para os cidadãos nacionais. Em 2006, 86% dos estrangeiros residentes na Suíça veio da UE. Quase um quarto deles nasceu na Suíça, mas mantêm a nacionalidade dos seus pais.
Segundo dados oficiais do último mês de Agosto, a Suíça viu aumentar a imigração em 4,6%, e tem agora cerca de 1,23 milhões de imigrantes, numa população com perto de 8 milhões de pessoas.
O Conselho Federal já rejeitou a iniciativa do SVP em Dezembro de 2012, mas a decisão final caberá aos eleitores suíços, no referendo de Fevereiro de 2014.
Tenho sido várias vezes questionada acerca da cláusula de salvaguarda prevista no acordo sobre livre circulação de pessoas assinado entre a Suíça e a União Europeia (UE) em 2002. Esta cláusula é uma opção de controlo que permite à Suíça estabilizar de forma unilateral as quotas máximas de títulos de residência, de curta e longa duração (permits). Muito honestamente, não tinha até agora encontrado muita informação acerca deste tema, por isso fui procurar e encontrei a comunicação oficial divulgada pelo Ministério da Justiça e Polícia Suíço (EJPD), juntamente com a devida explicação. Fica o link para os que estejam mesmo a considerar vir para cá e o aviso: encontrar trabalho já não é suficiente.
O comunicado pode ser consultado em Alemão, Francês, Italiano e Inglês, na página do EJPD:
Toda a informação de que disponho acerca de eventuais possibilidades de trabalho e da vida em geral na Suíça publico aqui no estaminé. Tudo o que sei pode ser encontrado algures por cá e não tenho nenhuma informação privilegiada ou secreta que não possa aqui publicar. Infelizmente é tudo o que posso fazer para tentar de alguma forma ajudar os que por aqui aparecem todos os dias e por isso não vale mesmo a pena contactarem-me a pedir emprego. Porque eu não tenho como arranjar emprego para ninguém. É isto.
Hoje vim aqui para recomendar a página de empregos internacionais do expresso. Tem cerca de seis mil ofertas no estrangeiro, trezentas das quais para a Suíça. Fica o link, para os interessados: http://expressoemprego.pt/emprego-estrangeiro
Os tempos que correm a isso obrigam, e são cada vez mais as pessoas que, dominadas pelo desespero, aceitam sair de Portugal em condições precárias.
Este artigo em nada me surpreende, e não conhecendo ninguém próximo nesta situação, tenho plena consciência que este tipo de situações é comum.
O que mais me deprime é saber que, em muitos casos, são os próprios portugueses, que enquanto empregadores, se aproveitam do desespero dos que aqui chegam, pagando "salários" de miséria e tirando vantagem da falta de conhecimento ou alternativa.
Triste também é a passividade do consulado, que eu própria já presenciei, que ao invés de agir em prol dos tantos portugueses deste país, os trata como estranhos.
Para os interessados, fica o artigo publicado pela Visão:
O deputado do PS pela emigração, Paulo Pisco, exortou este domingo o Governo a abordar as autoridades da Suíça para resolver os casos de exploração de trabalhores portugueses no país, que têm vindo a crescer e que envolvem vários licenciados
Na conclusão de uma visita à Suíça, em que se reuniu com representantes de sindicatos e outros membros da comunidade, o deputado socialista disse à Lusa que há "intermediários" a tirar partido do aumento da imigração portuguesa para a Suíça, retendo parte do salário dos contratados.
"Muitos recebem infinitamente abaixo daquilo que as convenções de trabalho na Suíça obrigam", disse à Lusa o deputado.
Enquanto o salário estipulado nas convenções varia entre 25 a 35 francos suíços por hora, nalguns casos o vencimento real dos trabalhadores é de "menos de 10 euros" (12,3 francos) e até "menos de cinco euros" (6,1 francos). "É uma situação de exploração laboral clara, que provoca um `dumping? salarial e cria problemas de natureza social. É uma infracção a todas as regras e leis do Estado suíço e não é aceitável que este tipo de situações ocorra", adiantou Paulo Pisco.
Nalguns casos, são empresas de portugueses a "atravessar dificuldades", que contratam conterrâneos e acabam por explorá-los, noutros os responsáveis são "intermediários com patrões suíços ou que eles próprios tem negócios", de acordo com as denúncias que têm chegado aos sindicatos. A construção é o sector onde se verificam mais destes casos, mas também há relatos noutros serviços, como a restauração, segundo o deputado socialista.
Pisco exorta o Governo a abordar as autoridades suíças para que sejam criadas "comissões mistas com inspecções do trabalho, colaboração entre autoridades policiais, para que este tipo de redes de exploração de portugueses pudesse vir a ser desmantelado". Além de serem negativos para as pessoas afectadas, estes casos prejudicam também "a imagem da comunidade" e "embaraçosa para Portugal", envolvendo violação das leis por portugueses.
Um ano depois de ter constatado "in loco" os "indícios" da situação, "não há uma resposta por parte das autoridades portuguesas, a nível consular". "O Consulado não tem capacidade de resposta, não tem funcionários suficientes (...) não sai do seu edifício, não tem uma preocupação de natureza social para que este tipo de problemas possa ser resolvido. É importante que as autoridades mudem um bocado de atitude", afirma Pisco.
Segundo o deputado socialista, o mais recente fluxo migratório para a Suíça inclui parte substancial de diplomados, como arquitectos ou engenheiros, que muitas vezes acabam a trabalhar na "restauração, limpeza ou agricultura".
"A Suíça ascendeu ao topo do ranking dos melhores países para nascer, substituindo os Estados Unidos da América, 25 anos depois de ter sido divulgado o estudo original da revista britânica. Portugal está em 30.º lugar."
Perguntam-me muitas vezes se cá estou para ficar. Se é aqui que quero criar os meus filhos. E eu vou adiando a resposta porque a verdade é que não tenho a mínima ideia. Não estou emocionalmente presa a este país. A minha permanência aqui deve-se tão e somente à oportunidade de trabalhar na minha área, ao salário bem pago, ao bom nível de vida e ao facto de estar a duas horas e meia de casa, de avião. Não sei quanto tempo ficarei por cá, não tenho um projecto. No dia em que aparecer algo melhor, vou embora. Por isso, e porque não planeio filhos a curto prazo, não posso saber se é aqui que vou querer vê-los crescer.
É claro que, pelo lado racional da ideia, seria sem dúvida bom para eles crescerem num país seguro a todos os níveis. Nunca vão conhecer dificuldades económicas, nunca lhes irá faltar nada, terão certamente muito mais do que aquilo que vão precisar. Vão poder brincar na rua até tarde, caminhar para a escola com os amigos... a probabilidade que algo de mal lhes aconteça é ínfima porque a comunidade protege e vigia as crianças alheias, os automobilistas são meticulosamente cuidadosos e os perigos são controlados ao pormenor. Vão crescer num país onde não deitar lixo para o chão, reciclar ou apanhar o cocó do cãosinho na rua são coisas tão naturais e rotineiras como lavar os dentes.
Mas crescer aqui significa também crescer no modelo de educação suíço. E lamento não conseguir concordar com grande parte do que essa filosofia implica. Senão vejamos: em muitos infantários (não acredito que em todos) as crianças são separadas por salas: suíços para um lado, estrangeiros para o outro. Isto para que o desenvolvimento das crianças suíças não seja afectado pelo atraso das restantes que não falam ainda Alemão ou que falam incorrectamente. Se por um lado, as crianças estrangeiras irão demorar ainda mais a aprender a língua e terão certamente dificuldades quando chegarem à escola, as crianças suíças, por outro, aprenderão logo ao início que a interculturalidade é uma coisa má. Aprenderão a não respeitar as diferenças, e crescerão com o preconceito de que tudo o que é suíço é melhor e tudo o que é estrangeiro é mau.
E todo o sistema de educação está desenhado neste sentido proteccionista e nacionalista. O que certamente não é uma coisa má para o país. Mas é péssimo para a formação de cidadãos, de pessoas no verdadeiro sentido da palavra.
Tenho um colega suíço que me explica de vez em quando porque todos estes ideais fazem sentido para ele, e que me diz muitas vezes "you love too much".
Mas eu não acho que o amor seja demais. Eu gosto de gostar das pessoas que me rodeiam e de me certificar que elas sabem disso. Eu gosto que as pessoas se sintam queridas e bem-vindas e aceites. I am a people person. E é isso que eu quero que os meus filhos sejam.
De que vale saber separar o vidro do cartão, se eu não souber que pessoas não se colocam em contentores rotulados nem se separam por cores, nacionalidades ou religiões?
Não há semana em que não receba contactos de pessoas que querem desesperadamente sair de Portugal. Para qualquer outro país, para fazer qualquer coisa. Este desespero deixa-me muito assustada, mas mais do que isso, imensamente triste.
Quando saí do país, apesar de a crise já se ter instalado de malas e bagagens, ainda não era tão comum emigrar. Não desta forma alucinada, não este tipo de emigração. Claro que não é nada novo, gerações anteriores emigraram em massa, primeiro para as colónias, depois para França. Mas era um tipo de emigração diferente.
Portugal assiste agora a uma saída desmesurada de pessoal bem qualificado, que passou uma grande parte da vida a estudar e chega aos 20 e muitos sem nunca ter conseguido trabalhar.
E, falando sobre a realidade que conheço, se até há bem pouco tempo existia uma grande procura deste tipo de pessoas no mercado suíço-alemão, esta necessidade está a abrandar, o mercado está a ficar saturado e nós, Portugueses, estamos em clara desvantagem. Temos como concorrentes directos os emigrantes da Europa de leste, que com qualificações com o mesmo nível de reconhecimento que as nossas, têm muito mais facilidade em aprender a língua e são tão ou mais baratos que nós.
Já disse aqui várias vezes, e faço questão de o mencionar a quem me pergunta: a Suiça já não é o paraíso laboral de outros tempos. Um país cuja principal parcela de volume de negócios advém das relações comerciais com a Europa, não poderia escapar imune à crise. E o efeito está a fazer-se notar. Os bancos suíços, tidos como os melhores empregadores, com os melhores salários e benefícios começaram a despedir pessoal em massa. O banco UBS, por exemplo, anunciou em Outubro passado o despedimento de 10’000 pessoas.
Quando estivemos em lá agora pelo Natal, dizía-me um conhecido que ama Portugal demais para ir embora. Um país abençoado, sem tsunamis, furacões ou desastres vulcânicos, rodeado de praias maravilhosas, montanhas e paisagens fantásticas. E que é uma pena que os bons profissionais se vão todos embora porque dessa forma não vai haver quem salve o nosso país. E doeu-me imenso saber o quanto ele está certo. Senti-me culpada por ter desistido do meu querido país e ter abandonado a luta. Mas é um facto que em Portugal não há, neste momento, lugar para mim.Nem para mim, nem para as outras centenas de jovens licenciados que já não sabem a que mais sacrifícios terão de se sujeitar para sobreviver. Nem mesmo para os nossos pais, que trabalharam a vida inteira e agora vêm os seus salários reduzidos e os seus empregos em risco.
Quando Portugal voltar a precisar de mim, voltarei de bom grado. Levarei comigo tudo o que aprendi num país de distintos profissionais e grandes empresas, e que me acolheu, mesmo que de braços pouco abertos, quando eu mais precisei.
Só espero já não estar reformada quando esse dia chegar.
O meu Natal foi, claro está, no meu cantinho à beira-mar plantado. Empanturrei-me do que é bom e que só em Portugal encontro, sempre às escondidas do maldito monstro da balança. E abracei a família e os amigos tantas vezes quantas quis durante a quadra natalícia.
E apesar de ser cada vez mais difícil de regressar, principalmente depois de duas semanas em casa, na minha verdadeira casa, não posso deixar de pensar no quão priviligiada sou. Uma grande parte dos meus amigos desterrados por esse mundo fora, e outra grande parte dos que fiz aqui não conseguiram, mais uma vez, ir passar o Natal a casa.
Com mais ou menos esforço, consigo ir a Portugal a cada 3 meses, mais coisa menos coisa. Trabalho que me desunho, é verdade, mas sou largamente compensada pela oportunidade de passar mais tempo com os meus, do que a maioria das pessoas que hoje em dia saem de Portugal.
Quanto ao ano que passou, foi feliz. E eu também. Começou logo bem com a chegada de um membro muito especial à minha família portuguesa. Os meus pais precisavam urgentemente de alguém para lhes ocupar os dias que ficaram mais vazios desde que vim embora. E a chegada da melhor cadela do mundo trouxe uma lufada de ar fresco (ou será um tufão?) àquela casa.
Viajei menos que o habitual, fiz alguns amigos novos e consolidei os velhinhos, que há tantos anos conservo. Trabalhei mais do que nunca e vi o meu esforço ser apreciado. Assisti à realização profissional de pessoas que amo, ao milagre da vida, e à vitória do amor.
Continua a ser difícil estar longe e regressar com o coração cada vez mais apertado. Os sorrisos da chegada são substituidos demasiado rapidamente pelas lágrimas da partida. Mas num balanço geral, continua a valer a pena.
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